Ser emigrante não é fácil. E
pronto, está dito aquilo que todos sabemos. Penso que ninguém precisa de sair
do país para conseguir perceber que viver longe daqueles que amamos e dos
lugares onde somos felizes não pode ser algo fácil. Eu sou uma emigrante recente,
sendo que a minha primeira experiência de
“estou-no-estrangeiro-não-percebo-nada-e-tenho-de-me-desenrascar-sozinha-socoooooorro!”
foi há uns anos, em Erasmus, em França. Na altura o choque foi grande e o medo
imenso, mas calejou-me para este meu regresso ao país das baguetes há cerca de
nove meses atrás. Ora este meu regresso a um país estrangeiro mostra uma de
duas coisas: ou sou absolutamente louca (que não sou) ou afinal de contas ser
emigrante não é fácil mas também não é nada que nos mate. :)
Começo
já por dizer que sou uma naba no que toca a línguas, tendo ainda por cima um
dom especial para com simples trocas de letras dizer palavrões em vez das
palavras sérias que pretendo. Falar com alguém é sempre uma experiência em que
eu só rezo para que da minha boca estejam a sair as palavras que o meu cérebro
pensa. Também faço trocadilhos que depois deixam lembranças engraçadas. E tenho
a certeza que ainda direi muita asneira e deixarei muita gente confundida. O
que me acalma é pensar que não sou com certeza a única a fazer estas figuras.
A
comida foi também outra coisa que me deu voltas à cabeça. Bem, estou a ser
optimista porque verdade seja dita ainda dá voltas à cabeça. Sei lá eu os nomes
dos peixes em francês! Os nomes dos condimentos! Os nomes dos legumes! Para ser
sincera, a experiência no supermercado é um pouco de
“deixa-cá-levar-isto-e-descobrir-o-que-é”. Tenho ali um molho para tacos quando
na verdade nunca fiz tacos na vida. E já dei por mim num restaurante a espetar
o garfo em coisas manhosas e a pensar “Ora, raios, então mas aquilo não queria
dizer cogumelos?”.
As
pessoas e a sua maneira de ser dependem do país para onde vamos. Na minha
opinião, os franceses não são um povo simpático, não gostam de estrangeiros
(embora tenham um tolerância bastante elevada para com os portugueses e gostem
até da nossa maneira de trabalhar) e não sabem cozinhar (bem que me enganaram
com a famosa cuisine francaise! Está
bem está, quando aprenderem a fazer sopa como deve ser, voltamos a falar).
Enfim, é verdade que não apanham tanto sol como nós e isso deve explicar grande
parte do mau-humor quotidiano, mas ainda assim, há excepções, como as há em
Portugal. A senhora dos Correios por exemplo é um amor de pessoa que se esforça
por me compreender e me corrige quando digo algo errado. Já a da farmácia olha
para mim como se cheirasse a peixe. Há de tudo como em Portugal.
Deixo
por último as saudades. Eu sou uma pessoa que lida bastante bem com as saudades
e por isso estas não me traziam um receio muito grande. Claro que as tenho e
metade do meu coração está em Portugal ao pé da minha família e dos meus
amigos. E sinto essa metade definhar quando falto a acontecimentos importantes,
datas festivas ou quando simplesmente me farto de ainda não ter amigos aqui e
quero deitar-me no chão e fazer uma birra tão grande que os tele-transporte a
todos para aqui no minuto seguinte. Felizmente vivemos numa época moderna e
temos das melhores invenções do mundo à disposição: a internet. Viva os
e-mails, viva o facebook, e três vivas para o Skype!
Ser
emigrante não é fácil, mas também não é nenhum bicho de sete cabeças. :) Não é
o país em que estamos se decide se somos corajosos ou felizes, mas sim nós. E
se temos a coragem para deixar o nosso Portugal à procura de algo melhor, então
também somos capazes de ser felizes onde quisermos.