Chega o Verão e abrem-se os livros que até aí não houvera tempo para
desfolhar. Passam-se as folhas uma após outra e engolem-se as letras como não
houvesse amanhã. No Verão, o tempo pára e eu posso ler cada palavra, cada
linha, cada página, cada capítulo, cada livro sem pressa e com a calma de quem
está de férias.
Lembro-me como se fosse hoje daquela infância em que a minha mãe passava todo o
tempo a ler como se não houvesse amanhã. Nessa altura não havia stresses, não
havia pressões, havia apenas o dia seguinte. E eu podia passar o tempo a
olhá-la, cheia de curiosidade, sobre aquilo que se passava naquelas páginas,
que a minha mãe só deixava quando terminasse a última letra. E foi assim que em mim surgiu o bichinho da leitura.
Não há palavras para descrever o prazer da leitura. Ela transporta-nos para
outro mundo , ela faz-nos sonhar, ela faz-nos olhar o mundo com outros olhos;
com os olhos de alguém que sente nas palavras o prazer de uma vida simples.
Ler é como se parássemos esta vida e vivêssemos outra vida que não é a nossa...
Porque quando chega
o Verão a vida corre mais devagar, sem pressa do tempo que está para vir.
Existe apenas a pressa de chegar ao fim de uma outra vida, que é um livro.
À minha mãe que me ensinou a ler.
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