Como tantos portugueses,
também a mim, há três anos, me chegou a vez de emigrar.
Depois de uma catrefada
de anos a estudar, estava presa a um
emprego incerto e instável, que não me fazia feliz, que era precariamente pago
e que nada tinha a ver com a área da minha formação. Tentei arduamente
encontrar outro trabalho, aquém e além fronteiras. Mas se em Portugal emprego
era coisa que não abundava, lá fora ninguém me dava emprego por estar tão longe
e, por isso, quase impossibilitada de comparecer a uma entrevista. Eu não tinha
como pagar uma viagem de avião para ir a uma qualque entrevista no estrangeiro.
Eu não tinha um fundo de maneio que me permitisse deixar de trabalhar por algum
tempo e dedicar-me à procura de algo melhor. O que eu ganhava mal dava para as
contas do final do mês.
Se ao menos existisse
alguma maneira de passar algum tempo no estrangeiro a procurar emprego, sem tem
que investir o dinheiro que não tinha... Bem, existem várias. E eu decidi ser
Au-pair.
O standard do programa
contempla raparigas, e cada vez mais, rapazes que queiram ir para determinado
país aprender a língua e cultura locais, no seio de uma família normalmente
também ela local. É-lhes dada esta oportunidade sem quaisquer custos e em troca
têm que tomar conta das crianças e cuidar da casa (em alguns casos). Existem
agências de aupairs, que serão sem dúvida a fonte mais segura para o programa,
mas não conheço nenhuma e fiz tudo via web. Inscrevi-me num dos vários websites
existentes e a após sensivelmente dois meses de diálogo com algumas famílias,
acabei por escolher uma na zona fronteiriça de Rhône-Alpes, mesmo junto à
Suíça.
É um facto que eu não
estudei para tomar conta de crianças e não era isso que queria fazer para a
vida, mas o programa foi uma oportunidade para melhorar o meu francês e deu-me
tempo, segurança e estabilidade para procurar emprego naquela zona. E foi o que
eu fiz. Ao fim de quatro meses a trabalhar enquanto Au-pair, encontrei um
emprego na minha área de estudos, em Zurique.
Não foi um período
propriamente fácil, e aviso já os que pensam que vão para descansar, passear e
conhecer o mundo, que se desenganem. O trabalho é muito, é duro e normalmente
não é intelectualmente estimulante. Por isso sempre encarei a oportunidade como
algo temporário e assim foi: saí de Portugal com o intuito de encontrar
trabalho na minha área de formação, internacionalizar o currículo e conseguir
uma vida melhor. O objectivo foi cumprido, por isso posso dizer que valeu a
pena e que faria tudo outra vez.
Poupando-vos a ilusões, é
um facto que a maioria das pessoas aqui é distante, fria, muito nacionalista e
e pouco acolhedora. Os estrangeiros não são o fruto preferido desta malta, e
depois dos primeiros meses deixamos de ser o "shiny new toy" e
passamos a ser o estrangeiro que veio para aqui roubar o emprego de um qualquer
suíço muito mais capaz. Protegem o que é deles, e fazem muito bem. Mas não nos
recebem de braços abertos, e quando, como eu, se vem para ficar, as coisas
podem complicar-se um bocadinho.
Mas há todo um outro lado
da moeda extremamente compensador.
Em tempos, alguém muito
querido perguntou-me: “E vale a pena estares longe dos que mais gostas pelo
dinheiro que ganhas?”
A minha resposta foi
curta, incerta. Por enquanto vale a pena.
A verdade é que não há
emprego que pague o valor da família e dos amigos. E estar longe foi o maior
sacrifício que alguma vez tive de fazer. No entanto, tenho conseguido ir a casa
com mais frequência do que esperei (a cada dois meses) e este sacrifício
permite-me proporcionar aos meus pais e amigos momentos de felicidade que nunca
antes foram possíveis. Quando estamos longe, aprendemos a dar muito mais valor
ao que deixámos para trás e a aproveitar muito mais cada momento que passamos
com as pessoas. Não amamos mais, mas sentimos mais.
E permitindo-me um
bocadinho de egoísmo, este sacrifício abriu-me portas para uma carreira na
minha área de formação, a fazer algo que gosto.
Por isso mantenho a minha
resposta: enquanto assim for valerá a pena.
A Catarina tem um blog onde relata a sua aventura como emigrante. Sigam-na em http://peripeciasdechevry.blogspot.co.uk/
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