terça-feira, 10 de setembro de 2013

Writings of a young migrant: Catarina

Como tantos portugueses, também a mim, há três anos, me chegou a vez de emigrar.
Depois de uma catrefada de anos a estudar,  estava presa a um emprego incerto e instável, que não me fazia feliz, que era precariamente pago e que nada tinha a ver com a área da minha formação. Tentei arduamente encontrar outro trabalho, aquém e além fronteiras. Mas se em Portugal emprego era coisa que não abundava, lá fora ninguém me dava emprego por estar tão longe e, por isso, quase impossibilitada de comparecer a uma entrevista. Eu não tinha como pagar uma viagem de avião para ir a uma qualque entrevista no estrangeiro. Eu não tinha um fundo de maneio que me permitisse deixar de trabalhar por algum tempo e dedicar-me à procura de algo melhor. O que eu ganhava mal dava para as contas do final do mês.
Se ao menos existisse alguma maneira de passar algum tempo no estrangeiro a procurar emprego, sem tem que investir o dinheiro que não tinha... Bem, existem várias. E eu decidi ser Au-pair.
O standard do programa contempla raparigas, e cada vez mais, rapazes que queiram ir para determinado país aprender a língua e cultura locais, no seio de uma família normalmente também ela local. É-lhes dada esta oportunidade sem quaisquer custos e em troca têm que tomar conta das crianças e cuidar da casa (em alguns casos). Existem agências de aupairs, que serão sem dúvida a fonte mais segura para o programa, mas não conheço nenhuma e fiz tudo via web. Inscrevi-me num dos vários websites existentes e a após sensivelmente dois meses de diálogo com algumas famílias, acabei por escolher uma na zona fronteiriça de Rhône-Alpes, mesmo junto à Suíça.
É um facto que eu não estudei para tomar conta de crianças e não era isso que queria fazer para a vida, mas o programa foi uma oportunidade para melhorar o meu francês e deu-me tempo, segurança e estabilidade para procurar emprego naquela zona. E foi o que eu fiz. Ao fim de quatro meses a trabalhar enquanto Au-pair, encontrei um emprego na minha área de estudos, em Zurique.
Não foi um período propriamente fácil, e aviso já os que pensam que vão para descansar, passear e conhecer o mundo, que se desenganem. O trabalho é muito, é duro e normalmente não é intelectualmente estimulante. Por isso sempre encarei a oportunidade como algo temporário e assim foi: saí de Portugal com o intuito de encontrar trabalho na minha área de formação, internacionalizar o currículo e conseguir uma vida melhor. O objectivo foi cumprido, por isso posso dizer que valeu a pena e que faria tudo outra vez.
Poupando-vos a ilusões, é um facto que a maioria das pessoas aqui é distante, fria, muito nacionalista e e pouco acolhedora. Os estrangeiros não são o fruto preferido desta malta, e depois dos primeiros meses deixamos de ser o "shiny new toy" e passamos a ser o estrangeiro que veio para aqui roubar o emprego de um qualquer suíço muito mais capaz. Protegem o que é deles, e fazem muito bem. Mas não nos recebem de braços abertos, e quando, como eu, se vem para ficar, as coisas podem complicar-se um bocadinho.
Mas há todo um outro lado da moeda extremamente compensador.
Em tempos, alguém muito querido perguntou-me: “E vale a pena estares longe dos que mais gostas pelo dinheiro que ganhas?”
A minha resposta foi curta, incerta. Por enquanto vale a pena.
A verdade é que não há emprego que pague o valor da família e dos amigos. E estar longe foi o maior sacrifício que alguma vez tive de fazer. No entanto, tenho conseguido ir a casa com mais frequência do que esperei (a cada dois meses) e este sacrifício permite-me proporcionar aos meus pais e amigos momentos de felicidade que nunca antes foram possíveis. Quando estamos longe, aprendemos a dar muito mais valor ao que deixámos para trás e a aproveitar muito mais cada momento que passamos com as pessoas. Não amamos mais, mas sentimos mais.
E permitindo-me um bocadinho de egoísmo, este sacrifício abriu-me portas para uma carreira na minha área de formação, a fazer algo que gosto.

Por isso mantenho a minha resposta: enquanto assim for valerá a pena.

A Catarina tem um blog onde relata a sua aventura como emigrante. Sigam-na em http://peripeciasdechevry.blogspot.co.uk/

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