quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Writings of a young migrant:Célia (Parte I)


“Ser emigrante, é muito difícil?”

Sempre que vou a Portugal, fazem-me esta pergunta e sei que a resposta que desejam ouvir é que sim, é muito difícil, que as saudades nos matam por dentro, que desejamos ardentemente que Portugal melhore para podermos voltar.

Não é o que eu sinto. Desde sempre pensei em emigrar e se não o fiz, foi por não conhecer ninguém lá fora, que me pudesse ajudar nesse sentido e por ter medo do que pudesse acontecer caso me visse sózinha, sem trabalho e sem dinheiro. Ouvimos tantas estórias que nos assustam, que pensamos duas vezes.

Mas a verdade é que nunca me realizei verdadeiramente no meu percurso profissional. Quando terminei o meu curso superior de Comunicação, optei por uma especialização em Relações Públicas. Pouco depois estalou a crise, não havia emprego para ninguém. Fui aceitando trabalhos menores e mal pagos na esperança de a crise passar. Quando melhorou consegui finalmente trabalhar na minha área, mas queria mais, queria dar o salto para subir na empresa ou mudar de empresa. Nunca consegui. Veio uma nova crise, era cíclica, diziam os economistas. E com o passar dos anos, vi os meus objectivos profissionais a esfumarem-se. Continuei a tentar, mas nesta altura já tinha currículo a mais, ou seja, não me queriam pagar tanto quanto eu merecia pelos meus conhecimentos e experiência. Continuei a tentar e com a entrada nos trinta era agora velha demais. Fiquei cansada, que país é este que não gera empresas capazes de atender ao profissionalismo dos seus jovens, onde impera a cunha nua e crua e não nos dá oportunidade?

Resignei-me. Quer eu, quer o meu marido sentiamos o mesmo. Eu numa empresa pequena, que me dava palmadinhas na costas e dizia “Continue assim, quando pudermos iremos compensá-la”. Nunca aconteceu. O meu marido numa empresa grande, na altura das avaliações levava também uma palmadinha nas costas também “Continua assim, este ano não podemos dizer que foste excepcional, porque as quotas são pequenas, não dá para todos os que queremos, mas para o ano vais ver, vai ser diferente”. Nunca aconteceu.

Quando surgiu a oportunidade de vir para fora, nem olhámos para trás. Deixei o meu emprego, segui o meu marido, trazendo o meu filho à tira colo. Foi antes da troika e mal sabiamos nós que Portugal iria entrar numa espiral descendente e vertiginosa.

O nosso desejo? Que o nosso filho procure o seu caminho e que não deixe de se realizar por não haver empresas na sua área, que tenha mais oportunidades, que possa estudar e trabalhar no que gosta e subir tão alto quanto queira.

Não, não foi difícil deixar Portugal. Durante 20 anos lutei tanto, trabalhei tanto por amor à camisola, para receber apenas “palmadinhas nas costas”. Já não falo por mim, mas quero muito que com o meu filho seja diferente e não posso deixar de pensar que infelizmente “Portugal não nos merece”.

http://cinquentamilaventuras.blogspot.co.uk