Há dois anos quando sai de Portugal, o país tinha entrado nesta tremenda crise. Há dois anos todos vivíamos revoltados, amargurados com o futuro negro que se avizinhava pela frente: os impostos aumentavam, parte dos ordenados eram retirados, a taxa de desemprego crescia e todas as conversas iam do sentido da situação que o país vivia. As pessoas viviam entre constantes desabafos e lamentações, preocupadas com o futuro e com razão.
Passados 2 anos e a cada oito semanas que volto a Portugal, a situação do país permanece preocupante. A criação de empregos é muito inferior à expectada, não há poder de compra, não há recuperação à vista. A situação é grave e tal como há dois anos as pessoas continuam a lamentar-se todos os dias. Se nessa altura eu até entendia, agora não entendo. Porque há uma altura em que é preciso caminhar para a frente e lutar pelo futuro, mas muita gente desculpa-se com a crise para não fazer o seu trabalho e para empatar o trabalho dos outros.
Parece-me que esta crise também serve de desculpa para não fazer o país andar para a frente e assim, meus amigos, não vamos lá. Temos muitas razões para estarmos preocupados, mas também é preciso fazer pela vida.
Embora lá fora, eu vou regularmente a Portugal para investir num projecto para o meu país, porque eu quero abrir as portas para um dia lá poder voltar. Mas quem está dentro coloca entraves com a desculpa da crise e eu perco a paciência e a vontade de investir o meu tempo e o meu trabalho.