sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Writings of a young migrant:Célia (Parte II)

Figurinhas de emigrante.
Num jantar que tivemos com os portugueses, rimos muito das figurinhas que fazemos quando vamos ao nosso país. Das coisas mais flagrantes que sentimos muita falta é do nosso céu azul tão intenso e vibrante e do sol que aquece, que ilumina tudo, que reflecte nas casas brancas e encadeia de uma maneira encantadora a paisagem portuguesa.
Quando vamos a Portugal, e isto acontece a todos nós portugueses que estamos a viver na Alemanha, ficamos extasiados com o céu azul, como se o tivessemos a ver pela primeira vez, de um azul tão vivo e lindo, que sempre tomámos por certo e só lhe damos pela falta quando estamos a viver noutro país. Por cá, também existe claro, não contando com as semanas de Inverno em que não o vemos, chegamos a não ver o sol durante duas e três semanas de seguida, o que para nós é um pesadelo. Mas este azul parece baço, sem vida, é azul claro e mais nada. E sentimos a falta do nosso azul de Portugal e fazemos figuras de emigrante quando regressamos a casa, tipo “Uau, hoje está um céu tão lindo, um azul espectacular” e ficamos uns momentos a contemplar de cabeça voltada para o céu. E as pessoas à nossa volta, ficam assim a olhar para o céu à procura de alguma coisa, sim, porque deve estar lá qualquer coisa que nos prende a atenção e não percebem, porque nunca lhe sentiram a falta.
O sol é outro elemento tão importante para nós. Em Portugal, quase que fugimos dele “Está muito sol”, “Sai do sol que te queimas”, “Não quero estar ao sol, fico com calor e encadeada com tanta luz”. Por cá o sol é raro e procuramos de forma sofrega um lugar ao sol numa esplanada. Quem vem cá, acha piada ao facto dos alemães estarem todos na esplanada voltados directamente para o sol, mas a verdade é que dura tão pouco tempo, uma, duas, três horas se tanto e temos que aproveitar, intensamente. É o que eu chamo correr atrás do sol, literalmente. Em Portugal, quando fazemos isso, olham para nós tipo “Coitadinha, ela vive mesmo nos confins do mundo, lá deve estar sempre escuro”. Bem, não é sempre escuro, mas é um bem raro e tão apreciado por cá e menosprezado pelos portugueses. “Anda aqui para a sombra, não queremos estar ao sol”, dizem as minhas amigas em Portugal. “Mas é tão bom, deixa-me apreciar enquanto cá estou” respondo eu.



E por último, como não podia faltar, o cheiro do mar. Em Portugal sempre vivi perto do Rio Tejo, na cidade do Montijo. O cheiro da maresia sempre foi um cheiro presente, como se pertencesse à cidade e a mim própria. Actualmente, vivo no interior da Alemanha, que não se parece nada com o interior de Portugal, mas mais com a nossa Lisboa. Mas falta-lhe aquele cheiro, o cheiro a mar. Estamos a quase 250 kilometros do mar e sempre que vou ao norte da Alemanha, fico momentaneamente embriagada com o cheiro da maresia, em Hamburgo, por exemplo. Aliás esta seria a cidade ideal para eu viver, perto do mar e com peixe grelhado fantástico, que tanta falta me faz em Braunschweig. E eis que voltamos a Portugal e ficamos de olhos fechados perto do rio e do mar, a inspirar o mais que podemos daquele cheiro e quase com vontade de chorar pela falta incrível que ele nos faz.

É impressionante como existem coisas na nossa vida que damos por adquiridas e só lhe damos valor quando elas não estão lá à mão de semear, coisas tão simples como o céu azul, o calor do sol e o cheiro do mar. Por isso mesmo, fazemos sempre umas figurinhas ridiculas de emigrantes em Portugal, a olhar para o céu, a sentir o sol no rosto que nos aquece o corpo, a cheirar aquele cheiro do mar e da areia da praia, tão bom... Que falta nos faz.
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