Saí de Portugal, não por necessidade, mas sim por opção.É um facto que estava desempregada, mas tinha um projecto profissional que me poderia manter ligada ao ensino. Adoro ensinar mas estava cansada, desmotivada e revoltava com o rumo que o ensino e que o país estava a tomar. Portugal é um país onde cada vez se valoriza menos os professores, onde se destrói lentamente a escola pública e tudo o que a associa ao futuro do país.
O meu companheiro repetia todos os dias que era preciso arriscar, mudar, viver novas experiências e quem sabe ter uma vida melhor.
Escolhemos um país onde não tínhamos ninguém, mas com o qual nos identificávamos muito, pelo seu acesso à cultura, que tanto gostamos, pelo espírito da cidade multicultural e porque é um facto, em Londres é difícil sentir-se emigrante, porque o espírito da cidade nos faz sentir como se tivéssemos vivido nela por quase toda a nossa vida.
O motivo final que me/nos levou a mudar foi a possibilidade quase única na Europa de continuar a trabalhar como professora, numa área que definitivamente é a minha praia, a Educação Especial.
Tudo parecia conjugar perfeitamente e apesar das dificuldades inerentes à emigração, que são inúmeras, a vida iria-nos correr bem e...... corre.
Ser professora em Inglaterra, não é de forma nenhuma a mesma coisa que o ser em Portugal. Devo dizer até que é uma reaprendizagem. Tudo o que fomos aprendendo com o nosso curso e com a prática é muito pouco utilizado aqui. E aquilo que lemos e a partir daí idealizamos sobre um sistema de ensino que dizem ser um dos melhores acaba por se transformar num mito urbano.
Como professora eu gosto de ser criativa, de preparar aulas dinâmicas que permitam ao meus alunos aprendizagens significativas. Eu gosto da profissão pelo processo de criatividade e pelo desafio inerente que é fazer as nossas crianças aprender sempre tendo em conta as suas particulares necessidades.
Esse desafio extinguiu-se aqui. Não há desafio inerente, não há diversidade, não há regra, não há empenho. Aprende-se quanto a mim pouco e permite-se demasiado. É uma escola muito permissiva, as consequências dos actos que podem ditar a sociedade de amanhã são raras.
E neste país que é e será um dos mais desenvolvidos da Europa onde existem e existirão muitos lugares para professores, não há paixão pela profissão de professor.
Quanto aos professores portugueses que já são muitos, reconhece-se o seu valor, porque a nossa formação é francamente boa e porque aceitam qualquer desafio. Pena que o nosso país não nos saiba valorizar e não digo só o governo, digo também os pais e a comunidade. Porque se assim não fosse teríamos todas as condições para ter um dos melhores sistemas de ensino da Europa. Tínhamos tudo para ter o melhor país do mundo, mas alguém insiste em querer arrastá-lo por entre os piores.
Quanto a mim continuo à procura de novos desafios! Um deles acabou de começar e tem feito de mim finalmente uma pessoa realizada com a minha profissão.
Aguardo serenamente e sem muitas expectativas, porque a vida é para ser vivida dia-a-dia com a certeza de que cada dia é um passo para a minha realização pessoal e porque Londres vale a pena ser vivida.
Fica a "angústia"de não saber se um dia contribuirei para a construção de um sistema de ensino que tinha tudo para dar certo.